#Rádio

Os Locutores Escolhem as Músicas que Tocam na sua Rádio preferida?

A Verdade Que Ninguém Te Contou Sobre as Rádios FM nos Anos 80

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SERGIO DUARTE - RADIALISTA CARIOCA

10/11/20257 min ler

mesa de radio
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A Verdade Que Ninguém Te Contou Sobre as Rádios FM nos Anos 80

Você achava que o locutor escolhia as músicas? Pois é...

Era outubro de 1980. Eu estava no estúdio da 98 FM Rio, na famosa Rua do Russel, 434, no bairro da Glória, arrumando uma pilha de discos conforme um roteiro que eu não tinha datilografado em folha de papel por mimeógrafo (depois vai no Google e pesquise...). .

Enquanto isso, observava o Claudinho 1000 — um querido e divertido locutor — preocupadíssimo com o toca-discos Garrard que, por pura "birra sonora", às vezes travava e arranhava a música que ia ao ar.

Naquele tempo, ninguém imaginava o salto do analógico para o digital. Ninguém imaginava o Spotify. E ninguém — absolutamente ninguém — sabia quem realmente escolhia o que tocava no rádio.

O Telefonema Que Mudou Tudo

"Por que você não toca mais rock como antigamente?"

A voz do outro lado da linha era de indignação pura. Ele acreditava que eu, o locutor que atendeu o telefone, era o culpado pela falta de Led Zeppelin naquela tarde.

Com um sorriso no rosto (que ele não podia ver), prometi tocar sua "melô" preferida — gíria da época para aquela música que era a contração da palavra melodia, em suma: Toca uma melo aí...

Mas a verdade? Nem eu, nem o Claudinho, nem qualquer locutor tinha controle do que tocava. E isso não era exceção. Era a regra.

O Perigo do Microfone Aberto

No início da era FM, o locutor operava uma mesa de som que parecia uma nave espacial. Dois toca-discos do lado esquerdo, bem protegidos (na foto acima do estúdio da 98 FM Rio). OS Botões da mesa de som por todos os lados. E um microfone aberto — sempre um perigo; já que muita bobagem era dita entre um disco e outro (quando se podia respirar no estúdio de rádio... Por isso daquela luzinha vermelha na entrada escrita: No Ar) . E os ouvintes, atentos, ouviam tudo. Inclusive os micos das conversas entre nós.

O Homem Invisível: Quem Realmente Mandava no Rádio

Deixa eu te contar sobre uma figura que quase ninguém via, mas que determinava a trilha sonora da vida de gerações inteiras: o programador de rádio.

Quando comecei no Sistema Globo de Rádio, (no dia do Trabalho em) Maio de 80, percebi rapidamente que existia uma hierarquia invisível. O locutor era o rosto — ou melhor, a voz. Mas quem realmente comandava o jogo ficava numa sala fechada, cercado de relatórios de audiência, pesquisas de mercado e pilhas de discos e fitas.

locutores de radio
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Sistema Globo de Radio - Pessoal da 98 FM Rio

O Arquiteto Sonoro

O programador é um estrategista, um arquiteto sonoro, alguém que equilibra arte e ciência de um jeito que poucos profissionais entendem. Ele estudava dados de audiência com a precisão de um analista financeiro, mas precisava ter a sensibilidade musical de um produtor artístico.

A melhor analogia? Um chef de cozinha: ele não cozinha cada prato, mas define o cardápio. Decide quais ingredientes entram, em que ordem e como serão apresentados ao ouvinte.

O CLOCK: O Relógio Que Controlava Tudo

Tudo girava em torno do CLOCK — o "relógio" do programa. Ele respondia às perguntas cruciais:

  • Quantas músicas por hora?

  • Qual o intervalo entre os sucessos e os comerciais?

  • Qual a "rotação" de cada faixa — power, medium ou light?

As Três Categorias musicais no Clock

Como tudo era cronometrado (como nas rádios americanas... Minuto a minuto) a quantidade de músicas e repetições das Melôs seguia a seguinte lógica por orientação do coordnador da rádio: Asmúsica Power rotation: Tocavam várias vezes ao dia. Os sucessos garantidos 9que os ouvintes pediam a todo momento pelo telefone); as Medium rotation: Menos frequentes; e as duvidosas Light rotation: apostas arriscadas — músicas que poderiam virar hits ou desaparecer em duas semanas.Denominadas lançamentos.

Cada detalhe era cronometrado, testado e ajustado. Uma música fora do lugar podia derrubar a audiência em 30 segundos. O programador apostava suas fichas ali, como um jogador em busca do próximo sucesso.

O Locutor: Maestro Sem Batuta

"Então o locutor não escolhe nada?" — você pode estar se perguntando.

Não exatamente.

O bom locutor tinha (e ainda tem) espaço para microdecisões que fazem toda diferença: o modo de introduzir cada música, o tom, a respiração certa antes do refrão. Mário Esteves, lá na 98 FM Rio, era mestre nisso. Ele sabia exatamente como apresentar uma música para fazê-la soar nova, mesmo repetida dezenas de vezes no dia. assim como outras feras que eu tive o prazer de trabalhar e que você escuta hoje na 98 FM Rio na Web

A Carta Coringa

Contudo, havia a famosa "licença do improviso". Se algo importante acontecesse — uma notícia urgente, por exemplo —, a programação podia ser interrompida. Lembro-me bem do dia em que anunciamos a morte de John Lennon. Ninguém sabia direito o que era rumor e o que era verdade. Mas sabíamos que aquela notícia parava o mundo. A música foi cortada no meio, e o silêncio do estúdio pareceu durar uma eternidade.

Era o poder do rádio ao vivo — o risco calculado, o coração da comunicação real.=true >

Como Usar a Alexa: Dicas da 98 FM Rio

como a Alexa da Amazon funciona e surpreenda-se com as dicas da 98 FM Rio. Aprenda a usar a Alexa de maneira eficaz e aproveite ao máximo seus recursos.

Por Que Todas as Rádios Tocam as Mesmas Músicas?

Você já se perguntou isso? Não é coincidência. É matemática emocional. Uma rádio comercial disputa cada segundo da sua atenção. Se você muda de estação, existem vinte outras prontas para te capturar.

A lógica é simples: Familiaridade gera conforto → Conforto gera permanência → Permanência gera audiência → Audiência gera receita

Mas aí entra a genialidade do programador: saber quando surpreender sem assustar. Colocar a música certa no momento certo, sem romper o conforto do ouvinte como já descrito anteriormente, pois, reitero ser como aquela receita de família: se muda demais, você reclama; se nunca muda, você enjoa. Voisa de gente.

Na foto: Sergio , Marcos, Biasae programação 98 e Robson Casstro Locutor

Sergio , Marcos, Biasae programação 98 e Robson Casstro
Sergio , Marcos, Biasae programação 98 e Robson Casstro

Os Bastidores Que Ninguém Via

Os bastidores eram o melhor lugar para entender o rádio de verdade. Ali se via o programador enfrentando pressões que o público nem imaginava:

  • Gravadoras querendo emplacar artistas

  • Diretores comerciais exigindo "bons índices de audiência"

  • Diretores artísticos defendendo qualidade musical

  • Pesquisas apontando tendências contraditórias

No meio desse caos, o programador precisava manter a identidade sonora da emissora — fazer com que, ao ligar o rádio, você soubesse em 15 segundos qual era a estação.

O Mapa Emocional do Dia como escolha de repertório

Nas rádios que programei, criávamos "mapas emocionais":

  • Manhã: músicas para acordar 9sucessos populares.. As que todo mundo cantava);

  • Meio-dia: leveza para o almoço ("Recordações 98" ou "Vale a Pena Ouvir de Novo");

  • Tarde: um mix equilibrado;

  • Noite: romantismo e nostalgia (o estilo consagrado por Robson Castro: Good Times - Os Bons tempos de Volta;

Levou décadas de tentativa e erro para encontrarmod e decidirmos por essa fórmula invisível que parecia tão óbvia para nós da programação.

A Revolução Silenciosa

Hoje tudo mudou — e, ao mesmo tempo, nada mudou. O streaming deu ao público a sensação de liberdade total: cada um é seu próprio programador. Mas até os algoritmos do Spotify e Deezer fazem o papel do velho programador, escolhendo o que você "deveria" ouvir com base em dados. Lembrando ue a maioria dos ouvintes não sabem o nome das Melos de hoje. Pensou nisto?

A diferença? Agora o programador é um código de computador alimentado por big data. E, ironicamente, as rádios que sobreviveram ainda dependem do mesmo princípio de curadoria humana. Porque, sejamos sinceros: Nada substitui o talento de uma radialista.

Às vezes, tudo o que queremos é ligar o rádio e confiar que alguém já fez o trabalho duro de escolher boas músicas.

A Mágica Que Faz a Diferença

Voltemos àquela ligação de 1980. Expliquei ao ouvinte que não escolhia as músicas, mas que estava ali para criar uma experiência com o que tinha. Ele ficou em silêncio por alguns segundos e respondeu:"Mas você faz parecer que escolheu cada uma pensando em mim."

E ali estava a mágica.

O locutor, o operador, o discotecário — todos obedecem a uma estrutura. Mas o melhor locutor faz o ouvinte acreditar que tudo foi escolhido para ele. Transforma uma playlist fria e calculada em algo íntimo, humano, inesquecível.

💭 E você?

Qual rádio ou locutor te fez sentir que a música foi escolhida pensando em você?
Deixe seu comentário — quero saber a sua estória com o rádio.

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