MÚSICA, FUTEBOL E CULTURA CARIOCA. SINTA A VIBE!
Ao Vivo
Quando a Música Parou: Último Suspiro da MTV
Descubra a história da MTV e o momento marcante quando a música parou de tocar. Explore o último suspiro de uma era icônica da televisão e seu impacto na cultura musical.
TRENDS BRASIL
pamela gomes - jornalista
10/13/20255 min ler


Quando a Música Parou de Tocar: O Último Suspiro da MTV
Há uma ironia cruel em assistir a MTV morrer devagar. Não com um estrondo, mas com um comunicado corporativo frio da Paramount Global anunciando o fechamento de cinco canais musicais até 31 de dezembro de 2025. MTV Music, MTV 80s, MTV 90s, Club MTV e MTV Live desaparecerão das telas no Reino Unido e partes da Europa, deixando apenas o MTV HD — aquele que há anos não toca música, apenas reality shows sobre relacionamentos tóxicos e pessoas gritando em casas compartilhadas.
É como ver um velho amigo irreconhecível em uma reunião de classe.
A Revolução Que Comeu Seus Próprios Filhos
Quando a MTV nasceu em 1981 com o icônico "Video Killed the Radio Star", ninguém imaginava a profecia invertida que aquilo representava. A emissora não apenas mudou como consumíamos música — ela literalmente moldou o que era música por quase duas décadas. Artistas passaram a ser criados visualmente antes de sonoramente. Madonna entendeu isso. Michael Jackson dominou isso. Kurt Cobain, ironicamente, desprezou isso (mas se beneficiou enormemente).
A MTV não era só televisão. Era o termômetro cultural de uma geração inteira.
Mas aqui está o ponto que poucos admitem em voz alta: a MTV começou a se matar muito antes do YouTube existir. Pensando bem, o declínio começou quando a emissora percebeu algo perturbador — produzir reality shows baratos era infinitamente mais lucrativo do que pagar direitos autorais para videoclipes. "The Real World", "Jersey Shore", "Teen Mom"... cada um desses programas representava um prego a mais no caixão da música na MTV.
A ironia? A MTV criou a cultura de celebridade instantânea que as redes sociais apenas industrializaram.
O Que Morre Quando Uma MTV Morre
Não se trata apenas de nostalgia (embora haja muita disso na internet agora). Trata-se do fim de uma experiência cultural compartilhada que simplesmente não existe mais. Antigamente, todos assistíamos aos mesmos videoclipes, nas mesmas janelas de tempo, criando memórias coletivas. Você se lembra onde estava quando viu "Thriller" pela primeira vez? Quando descobriu Nirvana no "Unplugged"?
Hoje, cada pessoa vive em seu próprio algoritmo personalizado. Não há mais "Headbanger's Ball" unindo metaleiros aos sábados à noite. Não há mais aquela sensação de descoberta coletiva quando a MTV apresentava um artista novo às 2h da madrugada e, na segunda-feira, toda a escola estava falando sobre aquilo.
O Spotify nos deu controle total. Mas nos tirou a surpresa.
A questão é mais profunda do que parece. Quando você tem acesso instantâneo a toda a música já gravada na história da humanidade, o que você perde? Perde o curadoria. Perde o contexto. Perde aquele DJ da MTV que te obrigava a assistir algo que você nunca escolheria — e que, eventualmente, mudava seu gosto musical para sempre.
(Confesso que sinto falta de ser forçado a assistir coisas que eu odiava. Parece masoquismo, mas havia algo libertador em não ter controle total.)
Os Números Não Mentem, Mas Também Não Contam Toda a História
A decisão da Paramount Global faz sentido puramente financeiro. Streaming de música gera centavos. Reality shows geram milhões. A matemática é brutal e inegociável. Mas existe um custo invisível nessa equação — o custo cultural de perdermos espaços curatoriais compartilhados.
MTV 80s e MTV 90s não eram apenas canais de nostalgia. Eram arquivos vivos, pontes entre gerações, professores silenciosos de história da música pop. Meu sobrinho de 15 anos descobriu Depeche Mode assistindo MTV 80s durante uma visita aos avós no Reino Unido. Ele nunca teria encontrado isso no algoritmo do TikTok.
E aqui mora uma questão incômoda: estamos terceirizando completamente nossa descoberta cultural para algoritmos que, por definição, só nos mostram variações do que já conhecemos? A MTV, com todas suas falhas e comercialização excessiva, pelo menos tentava apresentar o novo, o diferente, o desconfortável.
O Que Fica Quando Tudo Se Vai
A internet está reagindo com aquela nostalgia melancólica característica das redes sociais. Memes, vídeos antigos de VJs esquecidos, confissões sobre quantas horas foram perdidas (ou investidas?) assistindo "TRL" depois da escola. Tem algo genuinamente bonito nessa despedida coletiva, mesmo que tardia.
Porque, sejamos honestos, a MTV "de verdade" já tinha morrido há pelo menos 15 anos. Esses canais que estão fechando agora eram mais museus do que emissoras vivas. Mas museus importam. Memória importa.
Na verdade, pensando melhor, talvez a MTV tenha cumprido seu papel histórico. Ela nasceu para revolucionar, não para durar eternamente. Há algo poeticamente apropriado em seu desaparecimento gradual — como um rockstar que não quer fazer turnê de reunião, preferindo ser lembrado no auge.
E Agora, Para Onde Vai a Música Visual?
Aqui está a parte que poucos estão discutindo: o videoclipe como forma de arte não morreu. Ele se fragmentou em mil pedaços e se espalhou por plataformas que nunca foram projetadas para isso. YouTube tem videoclipes, mas também tem vídeos de gatos. TikTok tem performances musicais incríveis, mas duram 30 segundos. Instagram tem, bem... Instagram tem o que mesmo?
O que perdemos não foi o formato, mas a intenção curatorial. A MTV decidia que certos artistas mereciam 10 minutos de um documentário. Que certas músicas mereciam estar no ar às 8h da manhã. Que certos movimentos culturais mereciam um programa especial de uma hora.
Quem faz isso hoje? Algoritmos otimizados para engagement, não para relevância cultural. Playlists automáticas que confundem correlação com causalidade. Feeds infinitos onde tudo é efêmero e nada realmente importa.
O Último Ato
Então, quando a MTV finalmente apagar as luzes de seus últimos canais musicais em 31 de dezembro de 2025, o que estaremos realmente perdendo?
Uma empresa de mídia fracassada que abandonou sua missão original há décadas? Sim, isso também.
Mas principalmente, estaremos perdendo a última lembrança física de uma época em que a descoberta musical era uma experiência compartilhada, surpreendente e fora do nosso controle. Quando você podia odiar uma música na primeira vez que ouvia, mas estava preso ali, e na terceira vez começava a cantarolar, e na décima vez estava comprando o CD.
A MTV nos ensinou que música não é só som — é visual, contexto, momento histórico, acidente feliz de estar no lugar certo na hora certa. O algoritmo perfeito nunca te dará isso.
Quem sabe, daqui a 20 anos, olharemos para trás e perceberemos que dezembro de 2025 não foi apenas o fim da MTV. Foi o fim de uma maneira inteira de descobrir quem somos através da música que outros escolheram para nós.
Por enquanto, resta apenas apertar o play em "Video Killed the Radio Star" mais uma vez — e reconhecer que, desta vez, foi o streaming que matou o vídeo.


Assine Grátis!
Mantenha-se informado com as notícias mais relevantes do Rio, direto no seu e-mail. A newsletter da 98 FM Rio é totalmente gratuita. Assine agora e receba atualizações exclusivas, sem custo algum!
Você pode gostar
⚽ Viva essa emoção com a 98 FM
Aqui, o futebol não é só notícia — é paixão compartilhada. Sintonize na 98FM Rio, acompanhe as maiores rivalidades e entre de cabeça no clima do Clássico dos Milhões.


Aviso Legal: Ao utilizar este site, você concorda que leu e aceitou os nossos Termos de Uso e a nossa Política de Privacidade. Operamos de forma independente e, como tal, não somos controlados por nenhum operador de cassinos ou jogos de azar. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo de páginas em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização prévia por escrito.
Rádio 98 FM RIO 2019 -2025
Todos os direitos reservados