Morre Jimmy Cliff: Saiba a Sua Profunda Conexão com o Brasil

5 Fatos Surpreendentes Sobre Jimmy Cliff
Quando o mundo recebeu a notícia da morte de Jimmy Cliff, aos 81 anos, houve um silêncio instantâneo — um daqueles momentos em que a música, por um segundo, perde o fôlego. Não era apenas a despedida de um ícone do reggae. Era o fim de um ciclo que atravessou fronteiras, guerras culturais, movimentos de resistência e décadas de reinvenção artística.
Jimmy Cliff não era somente mais um nome na história do reggae. Era um porta-voz global de esperança, luta e ascensão social. Um artista cuja voz ecoou em diferentes gerações, conectando injustiças sociais da Jamaica com o resto do planeta. Mas o que muita gente só descobriu depois de sua partida é que Cliff tinha uma ligação profunda, afetiva e surpreendente com o Brasil — uma relação que atravessou música, política, amores, parcerias, família e identidade.
A seguir, você encontra cinco fatos essenciais para entender por que o Brasil marcou a vida de Jimmy Cliff muito além de palcos e festivais, e como essa relação ajudou a moldar parte de sua trajetória artística.

1. A ligação musical começou muito antes do Rock in Rio — e em plena ditadura brasileira
Muita gente acredita que a história de Jimmy Cliff com o Brasil começou no Rock in Rio de 1991, quando sua apresentação virou um divisor de águas para o reggae no país. Mas a verdade é que essa relação é muito mais antiga — e muito mais intensa.
Em 1968, Cliff desembarcou no Brasil para participar do Festival Internacional da Canção (FIC), um dos palcos mais politicamente carregados da época. O Brasil vivia o endurecimento da ditadura militar, e o FIC funcionava como um espaço de efervescência, ousadia cultural e resistência simbólica.
Ali, um jovem jamaicano ousou cantar “Andança”, clássico de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, eternizado na voz de Beth Carvalho. Cliff regravou a faixa com o título “The Lonely Walker”, usando o áudio original de sua apresentação no festival.
Para a época, isso foi mais do que uma performance:
foi um gesto de diálogo cultural raríssimo, décadas antes de o reggae se popularizar no Brasil.
Ou seja: antes de Marley se tornar unanimidade, antes do termo “reggae roots” circular com naturalidade pelas rádios, Jimmy Cliff já estava aqui — cantando MPB, entendendo o Brasil e sendo entendido por ele.
2. Ele viveu um romance com uma futura participante do Big Brother Brasil
Entre as muitas histórias que conectam Jimmy Cliff ao país, uma das mais inusitadas envolve o mundo da música, da mídia e, anos depois, até do reality show.
Nos anos 1980, Cliff viveu um romance com Harumi Ishihara, que se tornaria participante do BBB 16. Ela trabalhava na gravadora responsável por uma coletiva de imprensa que reunia Cliff e Gilberto Gil, e foi ali que o encontro aconteceu.
Harumi relatou que o clima profissional rapidamente se transformou em algo mais forte:
“Pintou uma faísca e percebi que ia rolar alguma coisa. Nunca misturei a carne e o ganha-pão, mas, nessa ocasião, foi uma coisa muito forte que aconteceu.”
O relacionamento tinha camadas complexas:
– Cliff era casado e sua esposa estava grávida;
– Harumi também tinha um namorado.
Segundo ela, ambos foram transparentes sobre o envolvimento — algo incomum para a época.
Além disso, Harumi contou ter enfrentado preconceito racial por ser uma mulher branca se relacionando com um artista negro. O romance, porém, foi descrito por ela como “muito bonito” e transformador.
Esse episódio revela não apenas um lado íntimo de Cliff, mas uma fotografia da sociedade brasileira nos anos 80, ainda marcada por tabus raciais mesmo dentro do ambiente cultural.
3. Ele morou na Bahia, gravou com a atual Ministra da Cultura e teve uma filha brasileira
Jimmy Cliff não se limitou a fazer visitas ao Brasil — ele viveu o país.
Durante um período importante de sua vida, o cantor morou na Bahia, mergulhou na cultura afro-baiana, participou de rodas, gravações, encontros musicais e deixou vínculos que se tornaram permanentes.
Foi nessa época que ele gravou a canção “Me Abraça e Me Beija” ao lado de Margareth Menezes, hoje Ministra da Cultura. Em sua homenagem a Cliff, Margareth escreveu:
“Compartilhamos momentos musicais inesquecíveis quando ele morou na Bahia. Foi uma convivência muito próxima e muito rica.”
Mas o laço mais profundo que Cliff deixou no Brasil tem nome e lugar de nascimento:
Nabiyah Be, sua filha com uma brasileira, nascida em Salvador.
Nabiyah, que seguiu carreira artística e participou de produções internacionais, frequentemente declara:
“Eu me sinto muito brasileira.”
Para Cliff, a Bahia não foi apenas residência:
foi pertencimento, foi lar, foi extensão de sua identidade diáspora-africana.
4. Sua música “Vietnam” foi chamada por Bob Dylan de a melhor canção de protesto da história
Para entender o peso da passagem de Jimmy Cliff pelo Brasil, é preciso compreender antes a dimensão que ele tinha no mundo. Cliff nunca foi apenas um cantor de reggae — foi um pensador musical e um poeta da resistência.
Sua canção “Vietnam” (1970) recebeu aquele que talvez seja o maior elogio possível dentro do universo das músicas de protesto:
Bob Dylan afirmou que “Vietnam” era a melhor canção de protesto que já tinha ouvido.
Dylan, referência absoluta nesse tipo de composição, não economiza palavras assim.
O reconhecimento coloca Jimmy Cliff no panteão dos grandes narradores da luta social do século XX.
E é justamente esse artista, com esse peso cultural, que escolheu viver parte de sua vida criativa no Brasil, longe dos grandes centros da indústria fonográfica.
Para ele, o Brasil era mais do que cenário:
era fertilidade artística, era vibração ancestral, era conexão espiritual.
5. Ele participou do início da carreira de Bob Marley — e testemunhou o nascimento do reggae
Um detalhe pouco conhecido pelo grande público:
Jimmy Cliff foi um dos primeiros artistas a ouvir Bob Marley em estúdio.
Antes de Marley se tornar o ícone máximo do reggae, Cliff já estava lá, observando de perto aquele jovem que buscava espaço. E mais: Cliff foi fundamental para a consolidação do reggae como identidade jamaicana, explicando o movimento como:
“Uma busca por independência. Olhamos para a África. O reggae veio entre o rocksteady e o ska, junto com o rastafari.”
Ou seja, Cliff não foi apenas contemporâneo de Marley — foi pilar fundacional do gênero, um dos nomes que pavimentou a estrada pela qual o reggae se tornaria global.
E novamente: alguém com esse impacto histórico escolheu dividir sua vida entre Jamaica e Brasil.
Conclusão: Jimmy Cliff não passou pelo Brasil — ele se enraizou
A trajetória de Jimmy Cliff desmonta a ideia de que artistas internacionais apenas “visitam” o Brasil. Ele não veio apenas para cantar. Ele se apaixonou por pessoas, cidades, sons, dores e cores. Viveu romances, compôs, gravou, construiu família, criou raízes.
Cliff encontrou no Brasil um reflexo da Jamaica:
um país plural, afro-diaspórico, desigual, criativo e emocionalmente intenso.
Sua história nos lembra que a cultura não respeita fronteiras políticas.
Jimmy Cliff vive em cada brasileiro que descobre o reggae, em cada baiano que lembra sua passagem por Salvador, em cada fã que ouviu “Many Rivers to Cross” pela primeira vez e entendeu que aquilo era mais do que música — era espiritualidade.
No fim das contas, Cliff não descobriu o Brasil.
Foi o Brasil que descobriu um pedacinho de si através dele.
Seu legado permanece como ponte entre dois mundos que, no fundo, sempre estiveram conectados.
- ATLÉTICO-MG 1 X 1 FLAMENGO – Reta Final e a Vantagem Rubro-Negra
- Jogo: Corinthians x Botafogo – Onde assistir, dia e hora
- Resultado do jogo: Grêmio 3 x 2 Palmeiras/. Virada Gremista e a Sentença do Brasileirão
- Resultado do jogo: Grêmio 3 x 2 Palmeiras/. Virada Gremista e a Sentença do Brasileirão
- Sua CNH Vai Mudar: 4 Reviravoltas Que Podem Afetar Seu Bolso
